terça-feira, 22 de março de 2011

EXÉRCITO AUXILIAR A ESPANHA 1793 A 1795 (Rossilhão e Catalunha)

REGIMENTO DE INFANTARIA DE PENICHE

Após o desembarque das forças no dia 9 de Novembro de 1793, o Regimento marchou no dia 20 para Meniscle, onde chegou no dia seguinte à tarde, tendo acantonado naquela povoação. Dali marchou para Morellas, onde chegou a 26, realizando estas marchas sob constantes tempestades e chuvas torrenciais, por caminhos intransitáveis e sem pontes, o que obrigou os soldados a terem de atravessar ribeiras, de forte corrente, com a água gelada pela cintura; ao atingirem o seu objectivo, já os franceses atacavam as tropas aliadas, entre as quais alguns regimentos portugueses que os tinham procedido.

Mapa do teatro das operações
Colecção particular
Os soldados, ouvindo o alarido do combate, apesar do extraordinário cansaço e do estado lastimoso em que se encontravam, pedem aos seus oficiais que os conduzam em auxílio dos seus camaradas, chegando o Capitão agregado António de Lemos Pereira Lacerda a suplicar que lhe fossem cedidas forças para marchar e correr ao combate com um cento de militares que voluntariamente se propunham acompanhá-lo. Este simples episódio demonstrou bem o excelente moral e o elevado espírito de corpo do Regimento de Peniche, contudo o pedido foi indeferido, contra as aspirações dos animosos soldados e pela prudência do respectivo Coronel e do Tenente-Coronel Bernardim Freire de Andrade.

No dia seguinte. o Regimento passou a ponte de Ceret sobre o rio Tech,e, livre já a comunicação deste ponto com o centro dirigiu-se com o 1.º Regimento do Porto e um Batalhão de Guardas Espanholas, para Saint-Jean de Pages; sendo todos destinados à guarnição dos pontos compreendidos entres a bateria de La Sangre e a de Saint-Ferrol.

Colecção particular

Em Dezembro foram reunidas diversas forças dos postos de Ceret, Pejes e Bolou, na totalidade de quase seis mil homens, formando uma coluna que, às ordens do Marechal Barão de Kesel, avançou no maior silêncio, pela direita francesa na noite de 4 de Dezembro. Deram os espanhóis, nesta marcha, as honras da vanguarda aos Regimentos Portugueses 1.º do Porto, Peniche e duas Companhias de Granadeiros de Freire de Andrade. Após o ataque todas as baterias francesas passaram para o domínio das tropas aliadas; a cavalaria espanhola prosseguiu na planície os fugitivos franceses, rematando a completa vitória de Courten.


Ordenou o General espanhol, que as forças portuguesas se reunissem e acantonassem em Arlés e nas suas cercanias, começando essa execução pelo Regimento de Peniche, que no dia 17 de Dezembro se colocou em marcha a fim de vigiar além do Tech, as alturas de Villars, onde as guerrilhas francesas faziam grandes estragos. Antes, porém, o Regimento foi passado em revista pelo General D. Antonio de Ricardos que, tendo-o observado em manobras, lhe fez os mais rasgados elogios pelo seu garbo e perícia militar, cumprimentando o Comandante que então era o Sargento Mor Castelo Branco, a quem o intrépido Conde de La Union, que naquele acto acompanhava o General Ricardos, dirigiu as seguintes obsequiosas e militarmente significativas expressões de: Comandante! Su Regimento, no me harto de miralo!". 


Colecção particular
 Em 17 de Novembro de 1794, encontrava-se o Regimento no acampamento de La Salud, quando os franceses atacaram impetuosamente as posições, começando logo a bater a nossa posição e a retaguarda da linha ocupada pelos aliados, ao mesmo tempo que investiam com todo o vigor a posição da Madalena, ocupada por um batalhão espanhol, que se esforçava por deter o avanço do inimigo. Bernardim Freire de Andrade, que comandava interinamente o Regimento, vendo a crítica situação em que se encontrava aquele Batalhão, envia-lhe de reforço a Companhia de Granadeiros, vendo contudo a impossibilidade de continuar a marcha e de reestabelecer a situação com as diminutas forças de que dispunha, tal era a força com que os franceses atacavam, resolveu retroceder e recolher a um reduto existente ali perto.


Esta retirada tornou-se dificílima, não só porque o fogo inimigo incidia permanentemente sobre o Regimento, mas ainda porque foi cortado e desorganizado por um regimento espanhol, que debandava desordenadamente. Perdendo então a sua coesão e a boa ordem, quando Bernardim Freire tentou reunir os poucos soldados que se encontravam junto das bandeiras, apenas conseguiu contar 60 praças, algumas das quais feridas. Julgou o General Courton que Bernardim Freire podia ainda deter na sua marcha os franceses, pelo que lhe ordenou que marchasse ao encontro do inimigo, ordem que foi confirmada pelo General Forbes, Comandante da Divisão Auxiliar.

Colecção particular
Narra-nos Latino Coelho:(1)  "(...)  atravessou Bernardim Freire, sob o fogo dos franceses, a planície, ao som dos tambores e com as bandeiras despregadas e arremeteu aos seus contrários, conseguindo nos primeiros momentos a estranha temeridade, e que a uma força tão diminuta foi pouco depois impossível completar. Se parece nada plausível que as débeis relíquias do Regimento de Peniche, apesar de reforçadas com mais alguns soldados que às bandeiras acudiram no caminho, pudessem ter mão em tão numeroso inimigo, já quase inteiramente senhores da situação, segundo na sua relação afirma o seu comandante se é quase impossível que os franceses, como naquele documento se asseverava, cedessem o passo aos poucos portugueses de Bernardim Freira, e se retraíssem a um ponto superior na montanha da Madalena, entrincheirando-se nos abrigos naturais que o fraguedo lhe ministrava, não se pode todavia contestar que o Regimento de Peniche, conservou em quanto pode a sua firmeza e a sua bravura durante um combate desigual, que os esforços mais heróicos não era dado por trair (...)".


Bernardim Freire de Andrade
Com uniforme de Tenente-General, posterior
 (modelo de 1806) Colecção particular
Efectivamente, vendo Bernardim Freire que não era auxiliado no seu ataque por quaisquer outras forças e que esta não podia dar qualquer decisão ao combate, determinou que a retirada se iniciasse pela direita, a fim de não sacrificar mais os restos do seu Regimento. Apesar de ferido por uma bala que lhe atravessou o braço esquerdo, não quis Bernardim abandonar a sua Unidade, nem deixar de contribuir par a salvação das bandeiras, símbolos sagrados da Pátria e da Honra Militar, e só quando uns e outros tinham recolhido a lugar seguro, é que Bernardim Freire entregou o comando dos destroçados e desfalcados restos do seu Regimento ao Capitão José Porfírio Rodrigues de Sequeira, em virtude que o seu imediato, Capitão José Leandro de Carvalho, fora gravemente ferido durante a acção.

O Regimento de Infantaria de Peniche, como todos os outros portugueses, sofreu graves perdas, tanto em homens como em material.


MORTOS:
- Capitão José Henriques Pereira da Silva
- Três Anspeçadas


FERIDOS COM MUITA GRAVIDADE:
- Tenente-Coronel Bernardim Freire de Andrade
- Capitão José Leandro de Carvalho
- 2 Oficiais-Inferiores; 3 Cadetes, 3 Cabos-de-Esquadra e 10 Soldados


FERIDOS LIGEIROS:
- Tenente Francisco de Paula
- Alferes Francisco Tinoco Sande e Vasconcelos
- 1 oficial-Inferior, 1 Cabo-de-Esquadra e 2 Soldados


DESAPARECIDOS:
- 5 Soldados


ARMAMENTO E EQUIPAMENTO:
- 31 espingardas
- 38 baionetas
- 339 mochilas
- 417 Frascos (cantis)
Todo este material foi abandonado pela necessidade de imprimir uma maior velocidade à marcha de retirada.


Texto e ilustrações de: marr

1 comentário:

  1. Boa tarde,
    Sou formanda de informática e necessito de fazer um Powerpoint com tema à minha escolha. Escolhi Leonor Távora e necessito de algumas ilustrações que encontrei nesta página. Queria pedir-lhe por isso o seu acordo, para as utilizar na minha apresentação. Tenciono, claro, dar os créditos a esta página, da maneira mais criativa que conseguir.
    Não preciso de dar os parabéns pelo conteudo deste blogue, pois não?
    :)

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